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A inspiração de um neto na vida de um avô atleta

Aos 65 anos, o uruguaio Fernando vive seus melhores momentos como esportista, sonhando em ver o neto Enzo crescer para compartilharem uma corrida juntos
Foto: Divulgação | Arquivo pessoal Fernando Hugo Mila Oliveira completou 1.001,85 quilômetros entre maio e o começo de julho deste ano.

Ele tem 65 anos e acaba de ultrapassar os 1.000 quilômetros percorridos num único desafio de ciclismo. O uruguaio Fernando Hugo Mila Oliveira surpreendeu os organizadores e participantes do 3º Desafio Sesc de Ciclismo e Corrida completando 1.001,85 quilômetros entre maio e o começo de julho deste ano.

Entre suas maiores inspirações está o neto Enzo, de 5 anos. “Eu nunca tinha tido um desafio de uma quilometragem tão grande como esta oportunizada pelo Sesc. Foquei e consegui ir bem”, diz Fernando que fez todo o percurso com uma foto do neto impressa em sua garrafinha de água. 

Praticante de esporte desde a juventude, o uruguaio é um incentivador: “Já estou ensinando o Enzo a correr e motivando-o a fazer esportes. É algo muito lindo né?”. O filho de Luciana e Oscar, que também aderiu à prática, é uma referência para o avô, que passou por problemas sérios de saúde na época do nascimento do menino. “Tenho uma química muito grande com meu neto. É algo tanto da parte dele, quanto minha, sempre que podemos estar juntos, estamos e isso basta. Sermos avós é um dos bons motivos para viver”, emociona-se Fernando. A relação dos dois faz Fernando lembrar que a família está sempre ao seu lado e desde sempre teve incentivo para ingressar nos esportes. “Minha mãe me incentivou bastante e a família é muito importante, pois um entusiasma o outro e o esporte incorporado à vida de cada um é algo muito bom”. 

O atleta, que faz questão de dizer que é da categoria dos veteranos, reconhece que foi o esporte que lhe permitiu renascer do infarto que sofreu. “Há uns anos passei por um momento muito difícil, talvez o mais triste que pode viver um ser humano, porque tive um episódio andando de bicicleta, treinando com um companheiro, episódio de quase morte súbita. Caí e tive um infarto”, conta ele, salientando que hoje já superou bem o susto. “Não senti nada, nada, um companheiro me fez a reanimação e outro chamou a assistência médica e sorte que não estávamos muito longe, talvez 8 ou 10 km. Foi grave, fui levado em coma para o CTI em Montevidéu. Fiquei lá muitos dias, mas despertei, graças a Deus! Cada vez creio mais que foi Deus que me trouxe de volta pra cá. Não fiquei com nenhuma sequela e tenho uma vida normal”, comemora o atleta.

Fernando lembra que “tanto a parte médica, quanto os companheiros disseram que fisicamente, como esportista pude suportar esse embate do infarto. Na parte muscular do coração, isso ajudou. Recuperei-me muito bem. Tive apenas uns meses de licença médica, mas em dois meses voltei ao trabalho”, lembra ele, que foi farmacêutico por 35 anos no Chuy (Uruguai). 

Após recuperado do infarto, Fernando se desafiou e fez uma prova de 5km. “Foi uma corrida em Maldonado, me propus que ia conseguir e com a companhia de minha esposa fui. Foi uma felicidade tremenda chegar, não senti nada. Neste dia eu disse agora não paro mais e assim foi. Sinto-me vivo, segui com minhas atividades e a cada dia me sinto melhor. É uma alegria viver, uma alegria de estar aqui com todos e poder realizar as coisas, viver a vida normal como qualquer ser.  Se aprende muita coisa em momentos difíceis. Só de saber que estive 4 minutos e meio morto e depois conseguir ir adiante é muito fantástico. Por isso dou tanto valor e carinho ao que tenho hoje, estou desfrutando, vivendo”, reconhece ele. 

 

O Significado do Esporte

“Conheci o Sesc Chuí antes da pandemia e a proposta das competições me pareceu algo muito lindo. Aqui não se tinha nada e começaram a organizar competições, incentivar as pessoas, todos são sensacionais, eu fui me motivando e decidi participar do Desafio de Ciclismo e Corrida. O esporte me ajuda muito na vida! Continuo praticando as duas modalidades (ciclismo e corrida) durante a semana e me sinto bem”.

Quando perguntado sobre o que se sente quando se faz um esporte, Fernando é objetivo: “Tanto em corrida, quanto em mountain bike é uma sensação divina! Para fazer esta atividade tem que estar convencido de querer se sentir bem. Se tens gana de fazê-lo, vai desfrutar disso. No meio da atividade têm pessoas que se perguntam: O que estou fazendo aqui? Ou para que saístes?. A resposta é que quando terminamos nos sentimos bem, desfrutamos das paisagens, de lugares que não conhecíamos e a possibilidade que isto dá é incrível! Acredito que é desta maneira que se deve viver, com amor pelo que se está fazendo. Nunca pensei em parar”.

Pai de duas filhas, Luciana e Vitória, Fernando faz questão de agradecer também aos amigos: “Sobre a motivação, preciso lembrar uma pessoa que conheci antes da pandemia, que é o Roger Correa do Sesc Chuí. Ele me motivou muito, mandando felicitações, me deu motivação para ultrapassar os 1 mil km, me incentivou muito. Sempre que nos encontrávamos dizia que conseguiríamos chegar e que era bonito o que estávamos fazendo. Uma pessoa que me motivou foi este amigo”.

 

Sobre o Brasil e o Uruguai

“Adorei o Desafio do Sesc, tanto que além da parte com a bicicleta, concluí 56 quilômetros correndo, tanto do lado Uruguaio, quanto brasileiro. Aqui nos entendemos como uma coisa só, vivemos nesta fronteira e compartilhamos tudo aqui com os companheiros. Não fazemos diferenças, somos uma coisa só”. Lembrando da prova, o atleta comenta: “Andamos por Uruguai, em Fortaleza de Santa Tereza, Punta Del Diablo e depois do lado do Brasil passamos por Santa Vitória do Palmar, Balneário Hermenegildo, paisagens lindas”.

 

O próximo desafio

“Todos os dias são desafios, desde o amanhecer. Aprendi muita coisa, a vida é dia a dia. Não há o que projetar em longo prazo, porque estamos em um momento da vida que não podemos deixar passar. O desafio é seguir adiante, com a possibilidade de competir, no virtual ou presencial, que a vida me permita seguir assim, serei uma pessoa feliz. Seria um sonho ter muitos anos mais. Sentir-me com gana para fazer esporte, seria esse o sonho e ver meu neto grande e compartilhar com ele uma corrida”.

 

Conselho pra quem não pratica esporte

“Depois do que passei, não se deve esperar ter um problema de saúde e ir num médico aos 50 anos que te mande começar a caminhar ou fazer algo. Devemos começar desde pequenos, porque o que se ganhe depois sendo maior é o que foi feito quando jovem. Eu sempre falo quanto antes começar melhor vai ser para condicionar o físico se vai ser um esportista ou para se ter uma boa qualidade de vida. Porque não necessariamente precisa ser um esportista competitivo, mas qualidade de vida para passar o melhor possível”.

Fernando reforça que “o esporte ajuda muito em todas as etapas da vida. O exercício tem que estar presente! Não tem que esperar que passe algo ou que alguém te mande fazer algo. Tem que o quanto antes, agarrar um hábito. Sempre digo, um pouquinho é melhor que nada. Assim 5 minutos, 10 minutos por dia, todos os dias, é melhor que nada e vai aumentando conforme se sentir bem. É fundamental, a mente te pede pra fazer uma atividade, ela necessita que o corpo tenha atividade”. Se amanhã vamos numa competição, quando estou na largada já sou uma pessoa feliz! Independente do resultado, estou feliz! O resultado não tem que ser um obstáculo. Devemos aproveitar minuto a minuto a vida, cada dia que amanhece. Pra mim foi um segundo e não vi mais nada…. Então, que os momentos difíceis sirvam pra vermos os bons!”, conclui ele.