Festival Palco Giratório Sesc chega à 19ª edição com foco na acessibilidade e na inclusão

Imagem: Flávio Charchar

A partir da próxima terça-feira, 20 de maio, a capital gaúcha recebe novamente um dos maiores eventos das artes cênicas do país. O Festival Palco Giratório Sesc em Porto Alegre chega à sua 19ª edição com um olhar sensível à diversidade. Além de atrações estreladas pelo talento de pessoas com deficiência, neste ano, um dos focos é a ampliação da acessibilidade. Pela primeira vez, o evento contará com visitas táteis aos espetáculos com audiodescrição. A proposta é que pessoas cegas, com baixa visão ou surdocegas possam explorar cenários e figurinos por meio do tato, com a orientação de profissionais especializados. Sem a necessidade de agendamento prévio, esses grupos acessam os espaços culturais uma hora antes de cada apresentação, onde têm a oportunidade de imergir mais no universo proposto por cada espetáculo. Além disso, algumas apresentações também contarão com tradução simultânea em Libras, a Língua Brasileira de Sinais.

“Mais do que assistir a um espetáculo, queremos que todas as pessoas possam vivenciar a arte. A acessibilidade está no centro desta edição porque acreditamos que a cultura deve ser um direito de todos”, afirma a coordenadora de Artes Cênicas, Visuais e de Arte Educação do Sesc/RS e curadora do Circuito Nacional do Palco Giratório, Jane Schoninger. “As visitas táteis passam a somar com a presença de Libras e da audiodescrição em um passo importante para tornar o Festival cada vez mais inclusivo e sensível às diferentes formas de percepção do mundo”, completa. Serão treze espetáculos com tradução na Língua Brasileira de Sinais e cinco que incluirão audiodescrição e visitas táteis. Entre eles, está a peça “Ao vivo [dentro da cabeça de alguém]”, nova parceria de Renata Sorrah com a Companhia Brasileira de Teatro (PR), um dos grupos de maior destaque do país. Na encenação, inspirada na clássica peça “A Gaivota”, de Tchékhov, a atriz contracena com Rodrigo Bolzan, Rafael Bacelar, Cássia Damasceno e Bianca Manicongo.

Artistas com deficiência protagonizam espetáculos inclusivos

Outro destaque desta edição é a inclusão, do ponto de vista dos artistas em cena. O palco se torna espaço de expressão plural e acessível com espetáculos que evidenciam a potência criativa de artistas com deficiência. Em “Azul Marítimo”, por exemplo, o premiado ator, diretor e roteirista Victor Di Marco apresenta seu primeiro solo autoral. Ativista pelos direitos das pessoas com deficiência, ele traduz em cena seus medos e fascínios pelo mar. A partir dessas sensações, constrói uma performance em que palavras retas e estáveis se contrapõem ao movimento instável das ondas, revelando uma dança marcada por tropeços, tremores e desequilíbrios. O resultado é uma narrativa fluida, que desafia a rigidez e celebra o delírio.

Também é destaque o espetáculo mineiro “Aptá”, que explora as relações humanas por meio da dança-teatro. A criação é inspirada na convivência do ator e bailarino Bernardo Gondim com seu filho autista. A partir dessa vivência, o espetáculo reflete sobre o olhar da infância neurodivergente, abordando temas como o hiperfoco, a sensorialidade e o afeto entre gerações. Já em “CorpoMundo”, a diversidade é celebrada por meio da dança-teatro em uma montagem criada por artistas com e sem deficiência. A dramaturgia visual e sensorial parte da pergunta “O que pode um corpo?” e se constrói com coreografias de Bianca Bueno, direção de Paula Carvalho, uso expressivo da Língua Brasileira de Sinais, projeções e trilha sonora. A obra propõe uma poética da criação a partir do encontro entre diferenças, destacando a beleza e a potência transformadora da convivência com a pluralidade dos corpos.

Além de proporcionar a acessibilidade nos palcos e na plateia, o festival ainda oportuniza a educação como fomento à inclusão com a presença do artista Subtu, grafiteiro e muralista conhecido por sua atuação em projetos inclusivos. Criador do projeto Graffiti Para Cego Ver, ele apresenta em Porto Alegre o painel “Comunicação e Distorção”, no Sesc Alberto Bins. A obra tem materiais táteis que convidam o público ao toque, propondo novas formas de interação com a arte urbana. Subtu conduzirá uma visita guiada ao mural no dia 20 de maio, às 17h30, e, no dia seguinte, 21, às 14h, ministra uma oficina de artes visuais acessíveis na Unidade. A atividade é voltada ao público com deficiência e explora a criação de obras com texturas e relevos, permitindo que a experiência artística vá além do visual.

“A arte não é apenas o que se vê. É, também, o que se sente. O toque, as texturas, os sons e os cheiros compõem experiências que podem, e devem, estar ao alcance de todos”, destaca Jane Schoninger. A programação completa do festival pode ser conferida no site www.sesc-rs.com.br/palcogiratorio. Os ingressos já estão disponíveis para compra e variam de R$20 a R$60, com diversas atrações gratuitas. A relação completa de espetáculos com Libras, audiodescrição e visitas táteis pode ser conferida a seguir.

Festival Palco Giratório Sesc – Após 18 edições em Porto Alegre, o Festival Palco Giratório Sesc movimenta e incentiva as artes cênicas com uma programação intensa, tradicionalmente no mês de maio. O Festival integra o Circuito Nacional, realizado pelo Sesc em diferentes estados para promover a difusão e o intercâmbio cultural, consolidando a iniciativa como a maior ação do gênero no Brasil. Ao longo de cada ano, traz uma programação caracterizada pela diversidade de expressões e temáticas, qualidade de espetáculos e ações formativas com grupos de todas as regiões do País. A proposta é destacar questões presentes na contemporaneidade por meio da arte. A 19ª edição, em 2025, ocorre entre os dias 20 de maio e 08 de junho. Serão 64 sessões de espetáculos apresentados por 52 grupos artísticos – sendo 24 do Rio Grande do Sul – que tomam conta de 22 espaços culturais da Capital Gaúcha.