Presença Negra no Acervo do MARGS
Presença Negra no MARGS consiste em um amplo e extenso programa público que propõe o debate e a reflexão sobre a presença e representatividade de artistas negros e negras no Acervo Artístico do Museu e também no sistema da arte.
Iniciado em junho de 2021, o projeto do Museu de Arte do Rio Grande do Sul — MARGS tem trazido a público conferências, palestras, encontros, cursos, debates, conteúdos e diversas ações com artistas, teóricos/as, pesquisadores/as, curadores/as e intelectuais negros/as e do pensamento negro no Brasil, incluindo agentes de movimentos sociais e ONGs.
Entre os temas, estão:
> A noção de arte afro-brasileira;
> As intersecções entre relações sistêmicas da arte e raça;
> Os processos de discussão decolonial em instituições culturais brasileiras;
> Os mecanismos e estratégias para uma educação antirracista a partir da arte;
> E o papel dos museus e das instituições na implementação de políticas e ações, sobretudo desde o sul do Brasil.
O projeto também envolve uma grande exposição a ser apresentada pelo MARGS em 2022, além de mostras virtuais como esta apresentada em parceria com o Sesc/RS.
Aqui, são destacados/as 21 artistas negros/as que integram o Acervo Artístico do MARGS. Junto a suas obras, são apresentadas informações sobre as respectivas biografias, produções e trajetórias.
Esta exposição virtual é um desdobramento da ação Presença Negra no Acervo do MARGS, que consiste em uma série de postagens iniciada em 2021 nas redes sociais do Museu, abordando a produção e trajetória de artistas negros/as que integram o Acervo Artístico do MARGS. Publicados com periodicidade quinzenal, os conteúdos têm coordenação de Izis Abreu, integrante do Núcleo Educativo e de Programa Público do MARGS.
Por meio de um exame e revisão crítica, o projeto levanta reflexões sobre as ausências e (in)visibilidades de sujeitos racializados como negros e negras na arte, ao problematizar o reduzido número de artistas cujas obras compõem o acervo do MARGS.
Audiodescrição:
Neste podcast o artista e educador Gabi Faryas entrevista Izis Abreu, curadora da exposição Presença Negra no Acervo do MARGS e Caroline Ferreira, curadora assistente do projeto.
Nesse diálogo são traçados alguns pontos percorridos pela curadoria para a montagem das exposições, tanto em formato presencial quanto virtual, como chamada de artistas, escolha de obras, processo de montagem e recepção do público. É conversado também sobre as expectativas da curadoria e da sociedade do RS na difusão de artistas negros na historicidade da arte gaúcha e nacional.
Desde lembranças à desejos de futuros e de demandas institucionais à realizações pessoais essa conversa soma, de maneira significativa e fundamentada, à uma documentação desse movimento histórico que se iniciou dentro de um dos principais museus de arte do estado e que reverbera com o Sesc/RS para além das paredes de um único museu. É tempo de escutarmos quem também faz a vida acontecer, em sua máxima potência e magnitude. Aproveite!
Prática Educativa
Percebe-se que muitas das obras que constituem a exposição Presença Negra no Acervo do MARGS, aqui na Galeria Virtual Sesc RS, são marcadas pela presença de imagens de corpos, independentemente se a técnica for fotografia, gravura ou pintura. Diante desse fator que atravessa toda essa gama de obras da mostra, torna-se interessante transformar as nossas percepções sobre a exposição em um material vivo, tanto efêmero quanto duradouro: a dança e a videodança. A ideia é que possamos interpretar essa exposição com o corpo todo e não somente com os pensamentos!
E refletir a ideia de presença é considerar em como estamos – ou não – em um determinado espaço, trabalho este que é essencial para o exercício da dança e da videodança. Assim como na exposição são compartilhados diversos corpos, todos cheios de potências, para dançar não é diferente: seja para uma câmera ou diante de outras pessoas, o que importa é vivermos o corpo que temos.
Nessa prática educativa em vídeo você é convidado a se experimentar na linguagem da dança e da videodança de maneira livre e leve. Seja em sua casa ou na sala de aula, o interessante é se fazer presente aí, aonde você estiver. Vamos dançar?
Exposição presencial em Pelotas de 2/09 a 20/10
Texto Curatorial
Quando o Programa Público Presença Negra no MARGS teve início, em 2021, o Acervo Artístico do principal museu de arte do Rio Grande do Sul tinha como 22 o número estimado de artistas negros/as, em um universo então de 1.100 artistas que até ali integravam sua coleção.
Esse número representa menos de 2% do total do acervo do MARGS. Os dados se mostram mais preocupantes quando descobrimos que, entre esses artistas negros, figura apenas uma mulher. O acervo do Museu possuía até então aproximadamente 5.000 obras, sendo 117 as de autoria desses 22 artistas de diferentes gerações, linguagens e técnicas artísticas.
Mas por que é importante quantificar e classificar artistas inseridos em acervos museais a partir dos recortes raciais e de gênero?
Observar esses dados é importante pois os acervos e as coleções de um museu de arte designam o que é considerado arte e quais objetos devem ou não fazer parte, definindo quais subjetividades devem ser preservadas, difundidas e acessadas. Assim, acabam por reverenciar alguns artistas em detrimento de outros.
Por conseguinte, a equidade de representações passa necessariamente pela reflexão das relações de poder que determinam a inserção de uns e a recusa de outros.
Neste sentido, a pergunta que devemos fazer é: quais relações de poder operam de modo a inviabilizar uma presença significativa da produção artística de homens e mulheres negras no Acervo Artístico do Museu de Arte do Rio Grande do Sul?
A ausência de sujeitos historicamente racializados e genderizados como os outros do homem branco não é uma prerrogativa do MARGS. Este tipo de exclusão atinge a maioria dos museus de arte. Isto se dá em razão da herança colonial e dos efeitos concretos da ideologia da raça e do gênero nas práticas sociais.
As exiguidades evidenciadas pelos dados obtidos demonstram a urgência do desenvolvimento de políticas institucionais que busquem a inclusão do pluriversal na produção do sensível, contribuindo para a construção de instituições museais inclusivas e igualitárias. As obras aqui exibidas são uma pequena fração de um contexto mais amplo da produção artística afro-brasileira.
Izis Abreu
Graduada em História da Arte e mestra em Artes Visuais — História, Teoria e Crítica, ambos pela UFRGS. Integra o Núcleo Educativo e de Programa Público do MARGS.
Audiodescrição:
Obras
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Arthur Timótheo da Costa
Arthur Timótheo da Costa (Rio de Janeiro/RJ, 1882 – 1922) foi pintor, desenhista, cenógrafo, entalhador e decorador. Iniciou sua atividade artística com seu irmão, João Timótheo, nos cursos de gravura e desenho da Casa da Moeda do Rio de Janeiro. Eles estão entre os raros artistas negros a estudar na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Em sua trajetória, Arthur Timótheo dedicou-se aos variados gêneros da pintura, como paisagem, cenas de cotidiano, natureza morta, retratos e autorretratos. A pintura “A dama de branco”, que retrata uma dama da alta sociedade da “Belle Époque” carioca, passou a integrar o acervo do MARGS em 1957 e é uma das obras mais apreciadas pelo público até os dias atuais. |
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Heitor dos Prazeres
Heitor dos Prazeres (1898 – 1966) foi um destacado pintor, figurinista, sambista e compositor carioca. Descendente de ex-escravizados baianos que constituíram o grande fluxo migratório para o Rio de Janeiro em fins do século XIX, Heitor foi uma figura importante do cenário denominado “Pequena África”: o palco de criação de grandes fenômenos artísticos, tais como o samba e o Carnaval brasileiro. O artista começou a pintar aos 39 anos, quando já era um nome consagrado da música popular e do mundo do samba. Ele desenvolveu uma poética autobiográfica, retratando em cores vibrantes e movimentos ritmados os espaços de sociabilidade negra e expressões da cultura brasileira de matriz africana. A produção pictórica de Heitor dos Prazeres integra um conjunto de fazeres artísticos que suscitam uma revisão de binarismos historicistas tais como erudito/popular, acadêmico/naif. |
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J. Altair J. Altair
J. Altair – João Altair Barros (Porto Alegre/RS, 1934 – 2013), artista autodidata, foi pintor, letrista, Babalorixá da nação Ijexá (terrreiro de orientação Exú Tiriri e Obá-Dai), militante do Movimento Negro e vereador em Porto Alegre. Começou a pintar por volta de 1950 e se consolidou no campo das artes como “primitivo” e “naif”, tendo grande aceitação neste nicho de mercado. Porém, com o amadurecimento progressivo de sua poética, J. Altair passa a refletir sobre a definição de seus trabalhos como primitivos. Segundo ele, primitivo “é uma coisa que não evolui, que estacionou”. A partir disso passa a se intitular apenas como “naif”, no sentido das “coisas simples da vida”.
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Carlos Alberto de Oliveira
Carlos Alberto de Oliveira (1951 – 2013), conhecido como Carlão, nasceu e viveu em Novo Hamburgo/RS, cidade que foi tema recorrente de sua produção artística, a qual se caracteriza pelo uso de cores intensas e contornos marcados. Através da abundância de figuras e de grafismos pictóricos, representou em suas pinturas temas como a educação, o carnaval, a religiosidade e as multidões em sua vida cotidiana. Carlão definiu as cores que utilizava em seus trabalhos como “cores brasileiras”, fazendo uso de um colorido vibrante, a partir de uma técnica pictórica que lembra vitrais. |
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Emanoel Araujo
Emanoel Araujo (Santo Amaro da Purificação/BA, 1940 – São Paulo/SP, 2022) é um escultor, pintor, desenhista, ilustrador, figurinista, gravador, cenógrafo, pintor, curador, museólogo e gestor cultural. Suas obras aproximam-se da estética construtivista, incluindo geometrias com cores que vão dos contrastes vibrantes aos brancos, pretos e cinzas, distanciando-se da imagética comum atribuída à arte afro-brasileira. Araujo é um dos nomes mais expressivos do cenário artístico brasileiro, assumindo um compromisso com o resgate, a preservação e a divulgação da memória afrodiaspórica, que atravessa sua produção em diferentes níveis. Além de ter realizado importantes exposições e publicações sobre a temática da negritude, idealizou e fundou em 2004 o Museu Afro Brasil, instituição dedicada a promover o reconhecimento, a valorização e a preservação do patrimônio cultural brasileiro, africano e afro-brasileiro. |
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Djalma do Alegrete
Djalma Cunha dos Santos (Alegrete/RS, 1931 – 1994), conhecido como Djalma do Alegrete, foi desenhista, pintor, ilustrador, figurinista, cenógrafo, professor, vitrinista, carnavalesco bailarino, cantor e poeta. Se formou pelo Instituto de Belas Artes (IBA), atual Instituto de Artes da UFRGS, em 1957, em um período em que o acesso de pessoas negras a esses espaços ainda era bastante limitado. Trabalhando com aquarela, colagem, crayon, óleo e pastel, Djalma desenvolveu uma vasta produção visual voltada ao figurativo, em que se destacam os retratos. Em acervos públicos do Rio Grande do Sul, trabalhos de sua autoria estão presentes nas coleções do MACRS e do MARGS. |
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Corbiniano Lins
Corbiniano Lins (Olinda/PE, 1924 – 2018) foi um escultor, gravador, desenhista e pintor pernambucano. Nos anos 1950, fez parte do movimento modernista pernambucano, integrando o Atelier Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR). Em sua poética visual são bastante presentes figuras femininas, em formas estilizadas e longilíneas. O Acervo Artístico do MARGS possui um álbum de gravuras, datado de 1960, com um conjunto de 10 trabalhos do artista. Neles, Corbiniano representa figuras de mulheres em situações cotidianas de trabalho ou descanso, a partir de um notável manejo de entalhe característico da técnica da xilogravura. |
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Paulo Chimendes
Paulo Chimendes (Rosário do Sul/RS, 1953) é artista visual, com produção em gravura, desenho, pintura e escultura. Em seus trabalhos, explora desde a expressividade da figura humana (por vezes representada com mordaças e/ou vendas), passando pela linguagem abstrata (investigando as texturas e as particularidades da gravura), até a paisagem, geralmente com suas cidades imaginárias. “Amordaçada” (1977) é exemplar das figuras humanas que se tornaram frequentes na produção de Paulinho. A imagem chama atenção pela violência infligida ao corpo que, além de amarrado e amordaçado, apresenta deformidades e dilacerações nas mãos. A partir das mordaças e amarras que expressam aprisionamento e impossibilidade de ação, podemos pensar em uma alusão às vítimas de censura e tortura, sobretudo porque, na época de sua produção, o país se encontrava em plena ditadura militar. |
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Otacílio Camilo
Otacílio Camilo (Porto Alegre/RS, 1959 – 1989) foi um artista multimídia que utilizou diferentes técnicas e linguagens artísticas, como gravura, performance, videoarte, poesia, colagem, fanzine, objetos e livro de artista. Influenciado pela estética da música punk, que procura criar uma maior expressividade utilizando o mínimo de recursos, o artista joga, em diversos de seus trabalhos, com formas bastante simplificadas, mas visando produzir uma visualidade transgressiva e, muitas vezes, perturbadora. Muitas de suas obras convidam o espectador a refletir sobre as relações cotidianas, o conformismo político, a opressão social e a alienação cultural a qual estamos submetidos. |
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Gutê
Gutê – Carlos Augusto da Silva (Porto Alegre/RS, 1958) é escultor e restaurador. Iniciou na técnica do entalhe de forma autodidata ainda criança. Ingressou aos 16 anos no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, onde estudou desenho, gravura, cerâmica e aprimorou sua técnica escultórica entre os anos de 1974 e 1977. Sua poética visual é frequentemente marcada pela temática da liberdade, simbolizada por figuras aladas. Utilizando materiais diversos, o artista trabalha com formas escultóricas que costumam transitar entre animais geometrizados, corpos femininos e seres com asas. |
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Jaci dos Santos
Jaci dos Santos (Porto Alegre/RS, 1955 – 2002) foi um artista plástico e instrutor de escultura. Trabalhou com desenho e gravura, mas sua principal linguagem artística foi a escultura. Jaci explorou a linguagem escultórica através de diferentes materiais e técnicas, como a pedra-sabão, a cerâmica, o bronze e, principalmente, a madeira. O título da obra “Banzo” (1978) vem do Quimbundo “Mbonzo”, que significa saudade, paixão, mágoa. Esse nome é dado aos sentimentos de angústia e melancolia dos escravizados africanos saudosos de sua terra de origem e/ou desejosos pela liberdade. |
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Antônio Sérgio Deodato
Antônio Sérgio Deodato (São Paulo/SP, 1952) é filho do escultor alagoano Antônio Deodato Sobrinho, conhecido como Mestre Deodato. Desde criança, adorava ver meu pai esculpindo cangaceiros e madonas em madeira de peroba e jacarandá, iniciando assim seu aprendizado na arte da escultura. A partir de 1973, começou a pesquisar casarios e sobrados coloniais e barrocos de norte a sul do país, fotografando a riqueza da arquitetura do século XVIII e XIX. No acervo do MARGS, o artista está presente com um relevo em madeira, representando uma fachada da arquitetura colonial de Ouro Preto. Antônio Sérgio Deodato se considera sobretudo um artesão, pois foi através da participação em feiras, como a Feira de Arte da Praça da República, em São Paulo, que conseguiu circular e comercializar sua produção artística. |
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Renato Garcia
Renato Garcia (Santana do Livramento/RS, 1965) é um artista contemporâneo que desenvolve seu trabalho a partir das linguagens do desenho, da gravura, da monotipia e da escultura. Sua pesquisa poética é conceitualmente atravessada pelo estudo da linha, do corpo, do espaço e do improviso. O artista investiga os trânsitos possíveis entre o desenho e a escultura. A obra “Sem título” (2012) apresenta formas orgânicas e foi construída a partir de bambu, cordas e papel. Para sua concepção, o artista valeu-se do conceito de economia, utilizando materiais simples, fáceis de transportar e desmontáveis. |
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Flávio Cerqueira Flávio Cerqueira
Flávio Cerqueira (São Paulo/SP, 1983) é um artista contemporâneo que se dedica sobretudo à linguagem da escultura. Grande parte de sua produção é desenvolvida a partir da linguagem da escultura figurativa, com fundição em bronze por meio do processo de cera perdida. A partir de representações da figura humana, Flávio dedica-se principalmente à construção de narrativas pela representação de ações, que, congeladas no tempo e no espaço, convidam o observador a imaginar o que antecede ou sucede a cena. Definindo a si mesmo como artista/contador de histórias, tem uma produção que abrange desde narrativas que tratam de situações habituais, oportunizando uma rápida identificação do observador com a obra, até complexas camadas de leitura que nos permitem (re)pensar a história do Brasil, fundamentada no racismo estrutural, por exemplo. |
Momar Seck (Dakar/Senegal, 1969)
Momar Seck (Dakar, 1969) é um artista visual e arte-educador senegalês que vive e trabalha entre Dakar e Genebra. Transitando entre as linguagens da pintura, colagem, escultura e instalação, Momar costuma refletir sobre questões sociais como consumismo e globalização. Com uma prática criativa que geralmente parte de África, em seus trabalhos estão presentes diferentes materiais (madeira, plástico, latas, tecidos, óleos, gessos), muitos deles provenientes das ruas de Dakar. A instalação “Travessia”, composta de pequenos barcos de madeira, convida a uma reflexão sobre a locomoção de pessoas dos seus locais de origem, muitas vezes em busca de abrigo e refúgio. |
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Rommulo Vieira Conceição (Salvador/BA, 1968)
Rommulo Vieira Conceição (Salvador/BA, 1968) trabalha com diferentes linguagens artísticas, como desenho, fotografia, videoinstalação, escultura e instalação. Seus trabalhos estão relacionados à exploração do espaço, à forma como ele pode ser percebido, representado e relativizado. Em suas pesquisas, Rommulo aborda as complexas características de identidade do homem contemporâneo, ao investigar sua percepção em relação ao espaço físico que ocupa. Em muitos de seus trabalhos, o artista desafia a percepção do observador, criando estranhos ambientes, que ao mesmo tempo em que trazem indícios de funcionalidade, também se mostram em aparente contradição e hibridização. |
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Dirnei Prates (Porto Alegre/RS, 1965) Dirnei Prates
Dirnei Prates (Porto Alegre/RS, 1965) cursou Arquitetura e Urbanismo na UFRGS (2003). Ainda na graduação, estabeleceu sua aproximação e diálogo com o campo artístico, desenvolvendo a partir daí um interesse pela linguagem da fotografia. O processo do artista, ao reproduzir uma imagem, muitas vezes compreende os atos de refotografar de forma analógica, digitalizar, ampliar em grandes dimensões e reproduzir novamente. As marcas de tais procedimentos – manifestadas muitas vezes em perda de qualidade, grãos aparentes e desfoque – são incorporadas e fazem parte de sua poética. Na série “Zona de neutralidade”, Prates se apropria de famosas fotografias, trabalhando a partir do reenquadramento de um fragmento da imagem, em sua cena difusa e periférica. Assim, o artista possibilita a criação de outras narrativas, desprendidas do contexto de onde a imagem foi subtraída. |
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André Ricardo (São Paulo/SP, 1985)
André Ricardo (São Paulo/SP, 1985) é um artista contemporâneo que se dedica especialmente à linguagem da pintura. Seus trabalhos, muitos deles relacionados ao cotidiano da vida urbana, permitem ao artista explorar o uso da cor, da forma e do espaço. A gravura “Sem título” (2012), que pertencente ao acervo do MARGS, integra o álbum “Independência ou Morte”, cujas obras procuram apresentar as diversas interpretações para a tão conhecida frase “Independência ou Morte”, alargando ao máximo o seu significado. O trabalho de André Ricardo, presente no álbum, é decorrente de um conjunto de desenhos realizados em trens e metrôs de São Paulo, intitulado “Comboio Ferroviário”, em que os personagens anônimos da metrópole estão em estado de sonolência ou introspecção. Essa situação cotidiana é pensada pelo artista em oposição a qualquer tipo de heroísmo, como o que se costuma atribuir ao Grito do Ipiranga. |
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Helô Sanvoy (Goiânia/GO, 1985)
Helô Sanvoy (Goiânia/GO, 1985) é um artista multimídia que trabalha com diferentes linguagens e suportes, como vídeo, instalação, desenho, objeto, colagem e performance, entre outros. Em seus trabalhos, procura abordar conceitos, formas e narrativas que não partem das referências tradicionais da história da arte. O aspecto político, latente em sua produção, é evidenciado em suas reflexões sobre as impossibilidades de comunicação, assim como nas proposições em que problematiza os silenciamentos e seus processos constituintes. No trabalho “POA” (2013), o artista promove um esvaziamento das narrativas habituais produzidas pela mídia, ao retirar os textos originais dos jornais. As lacunas deixadas são um convite para os espectadores completarem a obra, ao construírem suas próprias narrativas. |
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Osvaldo Carvalho (Rio de Janeiro/RJ, 1976) Osvaldo Carvalho
Osvaldo Carvalho (Rio de Janeiro/RJ, 1966) é artista visual e curador. Através de múltiplas linguagens – como pintura, desenho, escultura, fotografia e vídeo –, o artista desenvolve uma produção comprometida não só aos aspectos formais das obras, mas também bastante atenta às problemáticas da sociedade contemporânea. Suas pesquisas poéticas exploram signos e elementos do imaginário da cultura de massa e da publicidade, objetos e interiores domésticos, assim como promovem uma reflexão sobre a paisagem pública e urbana. Na série “Dinamarquesa”, com trabalhos intitulados “Is It Funny?”, o artista parece testar a atenção/percepção do espectador diante da obra ao jogar com a tensão entre a figura lúdica do palhaço e os objetos armamentistas que compõem seu número. |
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Leandro Machado (Porto Alegre/RS, 1970) Leandro Machado (Porto Alegre/RS, 1970) é um artista multimídia que trabalha com diferentes linguagens e suportes. Entre seus interesses de pesquisa, explorados em suas práticas artísticas, estão pensar a cidade, suas paisagens e seus habitantes, refletir sobre a sociedade de consumo assim como sobre as questões raciais, em diferentes níveis e camadas. Na série “Henê” (2003 – 2004), da qual uma obra integra o acervo do MARGS, o artista faz referência ao produto cosmético tradicionalmente usado por pessoas negras para alisar e/ou tingir o cabelo. Assim, ao usá-lo como pigmento na sua construção pictórica, questiona o padrão hegemônico de beleza, nos fazendo refletir sobre identidades étnico-raciais. |
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Maria Lídia Magliani “Brinquedo de armar”, 1978
Maria Lídia dos Santos Magliani (Pelotas/RS, 1946 – Rio de Janeiro/RJ, 2012) foi uma multiartista, autora de potente produção, sobretudo em pintura e desenho. Com uma produção vinculada à vertente expressionista, possui uma poética bastante singular, que provoca o observador por sua intensidade e dramaticidade. As figuras femininas, constantes em sua obra, colocam em suspenso as formas canônicas de representação desses corpos e nos levam a pensar sobre as condições que os atravessam e podem ecoar em tantas outras existências. Suas obras nos permitem refletir para além da pesquisa poética e formal desenvolvida pela artista, ativando questões que transbordam na contemporaneidade, como opressões sociais e de gênero. |