Exposição Desk´Artes
A arte contemporânea nos dá a possibilidade de produção com diferentes tipos de materiais, suportes e ideações. É um movimento híbrido, que transcende o universo das linguagens artísticas. Desk´Artes traz instalações, a partir da ressignificação de objetos do cotidiano, que, quando retirados de seu caráter utilitário, inserem-se em um outro espaço: o da Arte. No contexto virtual, entretanto, as instalações necessitaram de uma interferência audiovisual, constituindo, assim, uma nova poética no fazer e consumir Arte. Temos, então, dois artistas interferindo neste processo: Marisa Seidel, na construção simbólica e plástica das obras, e Anderson Farias, na leitura audiovisual.
Desk´Artes ultrapassa fronteiras de diversas naturezas. Como o nome já diz, as narrativas passam essencialmente por essa “área” ou “mesa” de artes, na qual nos reunimos e nos alimentamos de humanidades. São 6 obras da categoria instalação, envolvendo objetos como esmaltes, esponjas orgânicas e industriais, cabelos, lâmpadas e cacos de vidros diversos. Todas estão disponíveis em duas versões: com e sem trilha sonora. No espaço Material Complementar ou de Apoio, você poderá conferir a descrição de cada obra, pelo olhar da artista. As obras trazem provocações a respeito do atual sistema, no que tange uma suposta vida útil – de objetos e de sujeitos. Críticas ao capitalismo e à sociedade do consumo desenfreado. Produção incessante de lixo, seguida de nítida despreocupação com estes descartes. Modelos sócionormativos de sujeitos, aprisionados em expectativas alheias e, por fim, reflexões a respeito da filosofia de Descartes: pensar e existir são conceitos indissociáveis, realmente?
Marisa Seidel
Narração:
Marisa Frohlich Seidel
Marisa Frohlich Seidel é professora de Arte, formada pela FEMA (Fundação Educacional Machado de Assis), de Santa Rosa (2008), com especialização em Arte e Educação pela UNIASSELVI – SC (2015) e também em Arteterapia pela FAVENI – ES (2020). Passei a ver, admirar e questionar a arte durante a faculdade, porém a emoção perante a arte contemporânea surgiu quando escolhi esse tema no trabalho final da graduação. Penso que a hibridização de materiais que são usados na arte contemporânea, faz com que essa arte se aproxime das pessoas, pois muitas coisas que são usadas para a produção das obras, são elementos do cotidiano das pessoas, apenas colocadas em outro contexto e elevadas à categoria artística, pela maneira como são pensadas e apresentadas.
A arte tem a função de fazer as pessoas pensarem, e é isso que tenho como objetivo, pois, vivemos em um mundo onde as diferentes telas nos apresentam tudo pronto, e o próprio sistema prefere seres que apenas seguem seu curso sem muito analisar o caminho, tendo assim uma fácil massa de manobra; é nesse contexto que a arte vem justamente para barrar esse ciclo, fazendo com que o indivíduo pare e pense, muitas vezes por ser estranho, ou então por representar algo familiar e assim buscar entender seu significado e então refletir sobre sua vida.
A arte contemporânea não se resume em entender ou não, procuro apenas produzir para fazer pensar, pensar na sociedade em que se está inserido, bem como seu papel na mesma, fazendo uma crítica ao atual sistema de consumo e desvalorização do ser humano, para assim ser uma válvula de escape, uma maneira sutil de mostrar que existe um mundo, e é neste, que precisa prevalecer a essência humana.
Narração:
Obras sem trilha
AGENDADA Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Instalação Ano 2021 Vídeo com audiodescrição |
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CASULO Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Mista Ano 2019 Vídeo com audiodescrição |
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COM SERVOS Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Instalação Ano 2021 Vídeo com audiodescrição
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COMPLEXO DE IDEIAS Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Instalação Ano 2021 Vídeo com audiodescrição |
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O MELIANTE Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Instalação Ano 2021 Vídeo com audiodescrição
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PARA ONDE Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Instalação Ano 2021 Vídeo com audiodescrição |
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Obras com trilha
AGENDADA Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Instalação Ano 2021 Vídeo com trilha Vídeo com audiodescrição |
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CASULO Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Mista Ano 2019 Vídeo com trilha Vídeo com audiodescrição |
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COM SERVOS Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Instalação Ano 2021 Vídeo com trilha Vídeo com audiodescrição
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COMPLEXO DE IDEIAS Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Instalação Ano 2021 Vídeo com trilha Vídeo com audiodescrição |
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O MELIANTE Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Instalação Ano 2021 Vídeo com trilha Vídeo com audiodescrição
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PARA ONDE Artista: Marisa Seidel Captação de imagens: Anderson Farias Técnica: Instalação Ano 2021 Vídeo com trilha Vídeo com audiodescrição |
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Percepção da artista
Agendada (obra dos esmaltes)
A obra nos remete as unhas. Unhas femininas que sempre precisam estar pintadas e feitas, ora por vaidade, ora porque a sociedade assim o julgar necessário. O corpo da obra é esbelto e composto por dezenas de vidros de esmalte, estes gastos em horas de pintura externa, que cobrem centenas de afazeres e compromissos. O fato de estar sempre agendada para tudo, o momento de sentar, é quando as unhas são feitas, mas na maioria das vezes, para o labor, ficam então mergulhadas em uma cobertura que esconde a beleza, a delicadeza, porém, não a força, pois no interior feminino que se carregam a delicadeza de pinceladas que são feitas para apreciação interna. O consumo pela beleza é inerente e constante, mesmo que isso custe deixar sua essência, onde não interfere o pensar sobre a vida, afinal, pensar para que? Pois a sociedade agenda o que deve ser feito e espera apenas que compareçam no horário agendado e assim, mostrar uma boa aparência em relação à sociedade, porém não esquecendo as inúmeras tarefas a cumprir, não é necessário pensar, apenas fazer, pois a sociedade assim a quer, bela, trabalhadora e com poucos pensamentos, para não questionar, apenas fazer.
Casulo (obra dos cabelos pelo chão)
A obra Casulo busca fazer uma relação com a mulher, no seu mundo, muitas vezes sufocante e angustiante, onde existe um sentimento de prisão e dependência; mas esses sentimentos estão no interior feminino, pois o que brota e aparece na sociedade é o que está aparente, beleza externa que é buscada muitas vezes para esconder ainda mais o interno. A mulher busca de inúmeras maneiras apresentar a beleza que é bela aos olhos alheios, de diversas maneiras, com diferentes formas e cores, quando na realidade, vive em um casulo, com suas angústias internas buscando liberdade.
Com Servos (obra do tapete vermelho e suposta pirâmide social)
A obra busca fazer referência a quem são os verdadeiros servos. O ser humano passou a ser escravo do dinheiro, buscando a alegria e a felicidade no mesmo, e assim sendo escravos de seu trabalho, onde muitas vezes é recompensado apenas financeiramente, ficando atrelado ao ter. O dinheiro e o status quo passaram a ter grande destaque, bens materiais e poder aquisitivo comandam o sim e o não, quando na realidade, cada ser humano tem o poder de escolha na sua caminhada sobre a passarela da vida, tendo o direito de optar pelo que levará consigo. Infelizmente o sistema existente, fez com que as escolhas sofressem influências e dessa maneira a importância do ser humano ficou em último plano. O humano passou a estar com o prazo de validade vencido e foi esquecido no fim da prateleira, já os bens materiais passaram a ter um prazo indeterminado, pois passaram a prevalecer sobre o humano. Questionamos assim, quem são os servos? O dinheiro serve as pessoas ou elas servem ao dinheiro? Cada indivíduo é responsável por levar consigo produtos que de fato são essenciais, muitas vezes o que a maioria pensa nem sempre é considerado correto, buscamos portanto aquilo que se assemelha conosco.
Complexo de Ideias (obra da gaiola com as lâmpadas)
As ideias pulsam na zona de conforto, são ideias fantásticas, brilhantes, únicas, mas que vivem presas; estão enjauladas em nosso pensar. As ideias movem a humanidade, porém a conjuntura atual não preza por seres pensantes, as pessoas apenas devem seguir sem argumentar a realidade imposta. Alguns até se arriscam a partir para algo diferente, para pôr em prática suas ideias, porém, antes do pensamento criar forma ele já é dizimado. Então ao ver cenas lamentáveis, ideias que não deram certo, a humanidade fica ainda mais enjaulada em sua zona de conforto, com ideias pulsantes, mas sem forças emocionais para sair; porém, a porta sempre está aberta, na expectativa de que algum pensamento saia e consiga se consolidar, pois se existem ideias brilhantes também podemos pensar que existe um futuro brilhante para a humanidade, onde as ideias possam iluminar livremente fora de sua gaiola.
O Meliante (Obra das Esponjas)
A obra busca questionar quem de fato é o meliante durante o processo de visualização da mesma. Pois o indivíduo ao caminhar visualmente pela obra busca encontrar essa informação, sendo que temos dois elementos naturais que compõem a mesma e um terceiro elemento criado pela ação humana, que por mais que se busque aproveitar ao máximo, deixará sua porção de culpa para o planeta. Mas o questionamento vai mais além, onde o próprio olhar humano se mistura com a obra e se torna parte dela, pois também somos seres em decomposição, somos usados, aproveitados e descartados, voltamos a terra, mas criamos coisas que são deixadas como verdadeiras provas do crime que aqui cometemos, deixamos marcas que não se acabam com nós, vão além de nosso tempo. Então fica o questionamento, quem é o verdadeiro meliante, o vestígio deixado ou o criador do mesmo?
Para Onde? (obra dos cacos de vidro e sapato)
A obra é composta por centenas de diferentes tipos de cacos de vidro que podem fazer referência à mulher, por suas diversas tarefas diárias, onde acumula afazeres e muitas vezes, quando se dá por conta, já está em frangalhos, pois não aguentou a sobrecarga e se despedaça por dentro e por fora. A mulher na atual sociedade de consumo, presa inúmeras vezes pela aparência, naquilo que os outros veem, esquecendo do seu interior e de sua verdadeira essência, mesmo que isso lhe custe um árduo caminho. A mulher ainda precisa lidar com a sociedade que ao mesmo tempo que quer ver uma bela mulher com sua sensualidade, também deseja ver na mesma, aquela que faz todos os afazeres domésticos submissamente.
A obra ao mesmo tempo, também busca fazer referência a questão do lixo; existe alguma maneira correta de fazer um descarte seguro? Ou simplesmente fazer descarte como qualquer outro lixo? Algo cujo prazo é indeterminado para se decompor no meio ambiente. Porque não existe uma política maior para vidros retornáveis? Talvez porque vivemos em uma sociedade onde o próprio ser humano passou a ser “descartável”, porque teríamos que reaproveitar um vidro? E quando estes se quebram não voltam mais a sua normalidade, porém poderiam ter um destino melhor, isso em ambas as partes.